ISTOÉ revela escândalo envolvendo o vice-governador do Maranhão, Washington Oliveira
0 fugitivo, o ministro e a PF
Em menos de um mês, investigado pela PF encontra-se com o ministro da saúde, tem a prisão decretada, esconde-se da polícia na sede do PT em Brasília e consegue um habeas corpus para continuar livre
Claudio Dantas Sequeira
ALVO
Padilha (abaixo) recebeu em seu gabinete João Magalhães (alto),
que pretendia fraudar contratos com o Ministério da Saúde
No início de fevereiro, a Polícia Federal deflagrou uma operação que desbaratou um esquema de fraudes e lavagem de dinheiro na Prefeitura de Barra do Corda, no Maranhão. Como ISTOÉ revelou, a quadrilha, formada por membros da família do prefeito Manoel Mariano de Souza, o Nenzim, desviou R$ 50 milhões dos cofres públicos, boa parte dinheiro do Fundeb que deveria ser aplicado nas escolas. Agora, a PF está concluindo um novo inquérito sobre desvios milionários nas contas do Incra maranhense. As duas investigações, embora independentes, têm em comum um mesmo personagem: o lobista João Batista Magalhães, comerciante maranhense, conhecido de políticos e empresários, que nos últimos anos acumulou prestígio e riqueza, tornando-se figura carimbada nos gabinetes de Brasília. No início deste ano, Magalhães chegou a ser recebido pelo ministro da Saúde, Alexandre Padilha, em seu gabinete, na Esplanada dos Ministérios.
Apesar de não ser a figura central na nova série de escândalos maranhenses, João Batista Magalhães ocupa papel de destaque em cada um deles. Para a Polícia Federal, o lobista é peça importante para entender e desbaratar os esquemas de corrupção perpetrados por prefeitos do Estado. Por isso, ainda em fevereiro, pediu a prisão preventiva de Magalhães, que, mesmo diante de tantas denúncias, continuava na ponte aérea entre São Luís e Brasília. Foi na capital, aliás, que Magalhães se refugiou ao saber da ordem de prisão. Ao descobrir que poderia ser detido a qualquer momento, fez uso de sua rede de contatos no mundo político e conseguiu “asilo” na sede nacional do Partido dos Trabalhadores. Magalhães disparou telefonemas dali mesmo para advogados e amigos, um deles informante da PF. “Vimos no bina do telefone aquela sequência de três números 13. Quando pesquisamos, descobrimos que se tratava de uma linha do PT”, revela o delegado responsável pelo inquérito, Victor Mesquita.
FUGA O delegado Marcelo Oliveira nega que a prisão do lobista foi abortada por decisão da cúpula da PF |
Na segunda-feira 7, Magalhães foi beneficiado por habeas corpus concedido pelo Superior Tribunal de Justiça. O mesmo ato suspendeu a prisão preventiva do prefeito de Barra do Corda, Manoel Mariano de Souza, e de sua mulher, Francisca Teles, que também estavam foragidos. O secretário nacional de Comunicação do PT, deputado federal André Vargas (PR), diz desconhecer o episódio e também o lobista. “Nunca ouvi falar desse sujeito. Mas posso garantir que o diretório não serve de abrigo para ninguém, nem para criminosos nem para inocentes”, disse à ISTOÉ. O inquérito sigiloso, obtido por ISTOÉ, indica que Magalhães movimentou em sua conta e na de sua empresa quase R$ 10 milhões, entre 2007 e 2010. “Aproximadamente 50% destes depósitos são oriundos de cheques da Prefeitura de Barra do Corda”, diz a PF.
AMIZADE O vice do Maranhão, Washington Luiz, gosta de pegar os carros de Magalhães emprestados |
A relação entre o lobista e o vice-governador tornou-se mais forte na época em que Washington Oliveira era assessor especial da Secretaria-Geral da Presidência da República, na gestão do ministro Luiz Dulci. “Ele levava os prefeitos para Brasília prometendo a liberação de verbas. Já fazia isso havia uns cinco anos, mas nos últimos dois anos ele ficou fortíssimo”, afirma um assessor parlamentar. Oliveira admite que conhece Magalhães, mas nega qualquer envolvimento com as atividades de lobby. Contra a versão do vice há informações de que, dois dias antes da operação da PF, ele apresentou Magalhães ao ministro da Saúde, Alexandre Padilha, de quem era colega no governo Lula. Segundo fontes ligadas à investigação, depois de abocanhar verbas da educação e da reforma agrária, o lobista mirava na atual pasta de Padilha, a Saúde. Questionado pela reportagem, o ministro disse não conhecer o lobista, mas confirmou que ele fez parte de um grupo de cinco pessoas que lhe foram apresentadas pelo vice-governador maranhense no dia 1o de fevereiro, dois dias antes da decretação da prisão. Magalhães virou uma espécie de fantasma nas hostes petistas. E as investigações sobre seus negócios ainda vão assombrar muita gente.
Da Revista ISTOÉ
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